Mestre Raimundo Irineu Serra nasceu e foi criado no interior do Maranhão, local caracterizado pela forte ancestralidade de origem africana e indígena, e que define a identidade local de inúmeros quilombos e povoados rurais. O menino Irineu nasceu na última década do século XIX, no município de São Vicente Férrer, da Baixada Maranhense, em meio ao contexto histórico de resistências, lutas e da então recém-anunciada “abolição da escravidão”.
Aquele solo é fértil em devoções e ali convivem diversas expressões culturais no arranjo entre as matrizes de origem africana e indígena com o catolicismo popular. A transmissão oral dos saberes tradicionais acontece de geração em geração, honrando a memória dos antepassados. Outros grandes mestres da cultura popular também nasceram em São Vicente Férrer, como é o caso do Mestre Felipe de Sibá, com o Tambor de Crioula, tradição perpetuada nas danças e cantos em louvor ao santo preto, São Benedito.
O 20 de Novembro, Dia de Zumbi dos Palmares e da Consciência Negra, também é data para relembrarmos mais uma vez o homem que veio de longe, com os ancestrais africanos, religando a religiosidade do Maranhão e da Amazônia, curando e ensinando, do Brasil para o mundo: Raimundo Irineu Serra.
A herança afro-maranhense do nosso Mestre é raiz fundamental na sustentação da grande árvore sombreira, Mestre-Império Juramidam.
Texto: Lucas Kastrup Rehen, pesquisador e Doutor em Antropologia, autor da Exposição “Baile de São Gonçalo: retrato da Baixada Maranhense”, que resgata as origens culturais do Mestre Irineu e foi apresentada no Céu do Mapiá e integrada ao acervo da Escola Estadual Cruzeiro do Céu.